Neste momento, países da África Ocidental estão a passar pelo pior surto de ébola da história. A Guiné, Nigéria, Serra Leoa, e Libéria confirmaram mais de 700 mortes pela doença, que foi passando pelos países desde que surgiu somente à seis meses atrás.
Este surto, tem morto mais de metade das pessoas infectadas -- que faz deste, um dos surtos de ébola menos letais dos últimos tempos. Perversamente, esta relativamente baixa taxa de mortalidade deve-se ao seu rápido e devastaste alastramento; a ébola é o tipo de criação evolutiva que se aproveita de tudo e mais alguma coisa que possa encontrar.
É a doença em que virtualmente todos os filmes de terror-epidémico se baseiam.
É de lembrar que, tal como o HIV, a ébola é uma doença recente. Os primeiros casos registados são de 1976, aos arredores do Zaire e Sudão. A ébola não é o tipo de dificuldade histórica de longa-data que podemos considerar como parte da experiência humana, como o cancro ou a gripe -- Esta doença é mais nova do que muitas pessoas vivas hoje em dia.
A ébola foi descoberta por médicos do Instituto de Medicinas Tropicais da Bélgica. Não foi difícil para esses cientistas identificarem a fonte dos misteriosos e horríveis sintomas que se alargavam a várias áreas rurais do Zaire: olhando por um microscópio, as células infectadas apresentavam uma enorme estrutura, semelhante a uma minhoca.
Não era um parasita da malária, mas sim um vírus enorme a que chamaram ébola. Depressa alteraram para Febre Hemorrágica Ébola.
A equipa na altura não podia imaginar o sofrimento humano que a doença está a provocar atualmente -- começando com náuseas e vomito, avançando para sangramento das membranas mucosas, lesões, perda de pele, hipersalivação, e eventualmente a morte por uma de inúmeras razões.
Como o HIV, a ébola é um vírus de RNA, o que significa que o seu genoma é feito pelo primo, 'mais capaz de se mutar', do DNA que as células animais apenas usam periodicamente.
Ao contrário do HIV, a ébola não é um retro-vírus. Ou seja, o seu RNA não é convertido em DNA e inserido no genoma das células do hospedeiro. A ébola aproveita-se da maquinaria da célula e redirecciona-a para fazer mais cópias de si. Passado um tempo, essas cópias deixam a célula violentamente.
Muitos dos mais famosos sintomas de ébola existem mais para que o vírus se possa propagar de hospedeiro para hospedeiro, do que para servir de estratégia de sobrevivência para o vírus. É um pequeno sacana , não é?
Por várias décadas depois de surgir, a ébola foi surgindo várias vezes em África. Estes surtos deviam-se a contactos com primatas ou morcegos de frutas, este que pode transportar a doença sem apresentar sintomas.
Ao ser muito letal a ébola age contra si mesma a longo prazo, limitando a capacidade se espalhar por diminuir a mobilidade e fácil identificação dos infectados. Quase 300 pessoas morreram durante os primeiros surtos, que foram parados principalmente devido a zonas de quarentena e campanhas de educação.
A ébola teve a atenção pública pela sua brutalidade, mas houve o pressuposto: isto é um problema de África.
As pessoas assumiram, corretamente, que isto se devia a pobres infra-estruturas e educação -- não é o tipo de coisa que afectasse os países de primeiro mundo.
Não havendo cura, lutar contra a ébola é uma questão de rapidez em se por em quarentena os infectados e observar intensas rotinas de higiene durante uns meses. Parece ser simples, mas a superstição sobre a doença e as medicinas estrangeiras em África fazem com que muitos se escondam nos estágios iniciais da doenças, e que muitos outros resistam activamente aos médicos.
Adicionalmente, como a malária, a ébola é especialmente mortal para pessoas que já estejam fragilizadas por desidratação ou mal nutrição.
Em 2007 um surto de ébola matou mais de 100 pessoas, e em 2012 o vírus apareceu e matou apenas uma rapariga. A insensatez da doença foi grande parte do medo criado em África e à volta do mundo. Ainda assim os últimos 10 anos foram calmos em respeito à doença.
Este ultimo surto põe um fim a essa calma, já que no ultimo meio ano a doença matou mais de 50% dos infectados.
Lutar esta vaga de ébola vai exigir muita determinação.
Profissionais de saúde, tanto locais como estrangeiros ficam doentes muito frequentemente, apesar das mascaras, roupa esterilizada, e tentativas de evitar o contacto directo com os pacientes infectados. Adicionalmente, apenas laboratórios com nível máximo de segurança de risco biológico podem fazer investigação com ébola, por isso os progressos de pesquisa médica são lentos.
Este não vai ser o ultimo surto de ébola, mas pode ser o ultimo grande surto. Dependendo de como a situação é controlada, tanto por organizações internacionais como pelas sociedades locais de África, esta é uma doença muito superável.
Como sempre com esta doença, "se" é a palavra decisiva.